Translate

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Escrito em dezembro de 2011

(...)Era 19 de abril de 2011. Minha intuição disse que você estaria lá, e estava. Ainda sinto o aperto daquele abraço que você me deu. O mesmo aperto de saudade que tenho agora. Tirei fotos suas pra guardar pra mim. E quando decidi te esquecer, lembrei que estavam lá e apaguei. Hoje revi alguns álbuns e uma foto sua apareceu no meio. É o fim. Você está de perfil pra mim, e de frente pro seu barquinho. Tinha de tudo naquela arte, a sua essência, o seu mal gosto que me fez rir. E tinha você, e tinha alegria.
Nesse dia, caminhamos um pouco, nos beijamos na praça, sentados na grama próximo a uma árvore. Enquanto você me abraçava, perguntava se ali estava feliz. Eu estava, mas não sabia. Hoje sei.
O tempo voou. Você navegou com sua vela pro alto alto mar enquanto eu quis ficar no porto inseguro da lembrança. O vento do acaso me afastou de você, e talvez você nem se lembre mais desse dia, e nem de mim. Mas todos os anos de lá pra cá, ainda sorrio no dia do índio lembrando do seu sorriso tentando me alcançar.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Quando eu te encontrar quero um olhar
e um abraço para o ano inteiro
quanto eu te encontrar quero um luar
e um doce e intenso beijo.
Direi a ti sem palavras
o quanto te amo e desejo
Quando te encontrar quero um afago
e o melhor dos teus sonhos em textos.


De dezembro de 2011
Um dia quero que me acorde
quero que me morda e me desarrume.
Um dia quero que tome banho frio
e que saia tremendo pra eu te esquentar.
Um dia eu quero acariciar teu cabelo
e beijar sua boca debaixo da lua.
Um dia eu quero ser tua vizinha
e te esperar na esquina com pão e café.
Um dia eu quero estragar os seus textos
e provar que meus beijos são feitos pra você.
Um dia eu quero caminhar descalça
descer ladeira abaixo de mãos dadas contigo.
Um dia eu quero uma poesia improvisada
com palavras combinadas de amor e de infância.
Um dia eu quero um amor sem regras
e seguir os meus passos ao lado teu...
E olhar pro lado e ver seu sorriso
buscando minha face pra acariciar!


De dezembro de 2011
Não é preciso dizer que sente saudade pra alguém que você teve oportunidade de entregar um abraço mas não o fez porque pensou que o tempo não passaria.
O tempo passa sim, e com ele, passa também toda a insistência inútil de encontros e desencontros que dançaram tanto na pista do talvez, que agora quer pausa para descanso, e mais pra frente, nova canção para sorrir.
Não adianta procurar o que se perdeu em buracos negros que sugaram a vontade de se pertencer à alguém.
Não adianta escrever pra quem escreveu a vida inteira sobre amor mas nunca foi lida, de fato.
Não adianta reinventar memórias de quem poderia fazer um retrato falado quando fecha os olhos , porque a vítima do amor que nunca foi correspondido, não quer mais te encontrar.
De dezembro de 2014

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Te faço um café, quer?

Eu quero acordar de manhã, virar o rosto pro lado e ver que você ainda não acordou. Poder te admirar um ou dois minutos antes de te avisar que você está atrasado pro trabalho. E enquanto você levanta, quero brincar sobre como o dia pode ser bom quando amamos alguém. Depois de um banho, quero te oferecer um café que eu fiz, cheio de aroma de começo que eu sei que você adora nos finais de tarde também.
Quando estiver no trabalho, quero que saiba que estarei pensando em você ao arrumar a cama bagunçada que nós deixamos após uma noite de amor, e mesmo quando eu precisar me concentrar nos estudos, ainda assim me lembrarei de você por descobrir que a métrica da poesia épica costumava ser o hexâmetro datílico. São tantas coisas que quero que saiba...
Que o seu abraço depois de um dia cansativo é o remédio para todo o mal da minha alma, se é que em mim há espaço para algo que não seja amor.
Quando estiver preparando o jantar, quero que o perfume das ervas invada sua percepção e te faça compreender que o ingrediente que faz a diferença é cozinhar com amor pra você. E ao saborear, quero um dia ascender velas e colocar na mesa uma toalha nova num dia comum, só pra lembrar que o melhor da vida, como já dizia um cantor, é de graça. É sua companhia. Seu sorriso. Seu olhar que, desde o início, me conquistou.
Antes de dormir, quero poder te ouvir tocar melodias no violão enquanto eu sussurro palavras de ternura em forma de canção. E cantar contigo, fazer dueto na música e na vida.
Eu quero poder adormecer sentindo o calor do seu corpo, o toque suave das suas mãos, a doçura dos seus lábios desenhando em meu corpo uma boa noite.
E acordar de manhã, novamente, e entender ao olhar pra você que as coisas que Deus faz são mesmo perfeitas.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Se eu sei o que é o amor?
Bom...
Um dia desses eu comentei com meu namorado que estava com vontade de comer um bolinho de chuchu que uma tia minha muito querida já falecida fazia pra mim. 
Ontem ele saiu mais cedo do trabalho e aproveitou pra me fazer uma surpresa. Me chamou pra comer. O que tinha na mesa?
O bolinho de chuchu. Feito por ele. Com todo amor e carinho. 
Pra mim, amor é isso. É se importar com o outro, é agradar sem pedir nada em troca, é cuidar dos mínimos detalhes, e saber que são esses detalhes que realmente importam.
Comi o bolinho de chuchu lembrando dessa tia querida, mas agradecendo a Deus por ter me dado a oportunidade de amar e ser amada.

sábado, 8 de outubro de 2016

Nas tuas primaveras contadas
De todas as completas,
Em algumas estive presente
Mas a minha poesia
Esqueceu-se inteiramente
Dos teus olhos quase invisíveis
Na madrugada, sob o luar.
Agora que o teu cheiro
Não mais me alcança
Ao contrário, me repele...
Tua primavera está viva
Mas as flores que colhemos juntos
e que eu formei um buquê de ilusão
Murcharam por falta de amor
Morreram pra enfeitar nosso fim.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

A fábula da fonte


       Era uma vez, num lugarzinho no meio do nada, com sabor de marolo e cheiro de café, uma cidadezinha que, em pleno século XXI, ainda vivia a política café com leite.Anos e anos, os donos do poder se revezavam entre si, pois, se alguém com a mente aberta entrasse, estragaria seus planos maquiavélicos que tinham para aquela população que se achava esperta, mas no fundo, eram feitos de palhaços por eles.
Dizem alguns loucos que, mais palhaças ainda, eram as pessoas que defendiam esses donos do poder fielmente, como cães de guarda, para livrarem o seu dono de todo mal ( críticas) que um ou outro fizesse.
No ano em que a democracia no país foi morta a golpe, aconteceu  mais uma eleição que decidiria o futuro daquela cidadezinha nos próximos 4 anos.Nesse tempo, o senhor vovôzinho, que já era o reizinho daquele povo, maqueou bastante a cidade. Limpou praças e colocou corrimão nas escadas, plantou graminhas em todos os lugares possíveis, pintou o meio fio das calçadas, terminou de implantar estacionamento de carros onde havia lindos Ypês amarelos e outras arvorezínhas numa avenida, comprou remédios básicos para a população pobre adquirir na farmacinha que também foi reformada, entre muitas outras bondades (dizem, sem o menos interesse) feitas para aquela população. Até lombadas ele distribuiu ao longo da cidade inteira da noite para o dia!
A saúde, no entanto, ainda precisava de atenção. A educação, infelizmente também foi negligenciada. A segurança então? A sorte de muitos é terem um cachorro grandão pra afastar as pessoas más de suas casas.
Mas havia uma fonte. Ah, aquela fonte tão bela, porém esquecida, ali no meio da praça principal daquele lugarejo. Anos de ouro eram os que aquela fonte funcionava. Luzes coloridas, jatos de água fazendo um show particular para as pessoas. Triste não tê-la mais para enfeitar a realidade monótona daquela cidadezinha. Não tinha cinema, o teatro era para a nata, no festival de música  que  aconteciam lá, os participantes nativos nunca tinham vez. A fruta típica daquele lugar tinha até uma festa, reconhecida pela redondeza, mas pela pequenez da mente dos donos do poder, nunca foi inovada. O povo não tinha voz, nem barriga, nem mente. Mas tinha bota e chapéu para ir pra festa de rodeio.
Voltamos a fonte. Veio uma ideia...Maravilhosa ideia! Vamos reformar a fonte! Vamos devolver o luxo à cidade! Vamos dar aquele sentimento de glória para o povo!
Então o senhor vovôzinho, mesmo com o orçamento super apertado (como ele mesmo divulgava) realizou um verdadeiro milagre ao fazer brotar um dinheiro nos 45' do segundo tempo e...Voilá! Lá está a fonte linda, cheia de cores, com seus jatos de água dando um show para o público que participava do circo como espectador e palhaço!
Muito bem. Mais uma vez o revezamento foi tão eficaz que já pode participar das provas da olimpíadas daqui 4 anos.
O melhor foi a comemoração. Ver o senhor vovôzinho dançar funk de sua campanha em cima de uma caminhonete com seus queridos amigos eleitores, não teve preço. Sinto que nasci pra ver isso.
Olhar para o lado e ver os jovens brigando, arrumando confusões segundos depois do senhor vovôzinho ter descido da caminhonete para distribuir carinhos e carícias, nem o cartão de crédito do Bill Gates paga. Pois a zoeira, essa não tem limites mesmo.
Fim.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Falta alguma coisa
Na alma cheia de vazios
às vezes preenchidos
às vezes esquecidos...
Falta alguma coisa
Na voz silenciada
no grito entalado
na doçura enlatada...
Falta alguma coisa
No amor que está morno
por vezes queima desejo
por outras sobra desdém...
Falta alguma coisa
Na pele de alguém
no toque recebido
no beijo não dado
Sempre falta alguma coisa.

sábado, 24 de setembro de 2016

Nessa tua ausência que me corrompe
invade o que não poderia pensar
amar-te? já não posso, não devo
Não posso levantar meu olhar.
Na tua ausência desmedida
digna de poesia homérica
grandiosa, épica
agora resta somente em minh'alma
o resquício de um amor do passado.
Talvez um afago, um beijo encostado
nos bancos das praças de uma cidade distante.
O peso que senti dos anos
em que tu virastes as costas pra mim
e nem ao menos olhou para traz
nem ao menos um último adeus
causou em meu peito dor constante.
Nessa tua ausência encontro
entrelinhas que tu de onde estás, podes me observar
esquecer-te? já não sei se lembro muito de ti
mas teus olhos, às vezes me perturbam.
Nessa tua ausência, enfim
sei que nem ao menos lembra de mim
nem ao menos pensa em meus lábios
nem sequer tivemos um fim,
pois para ti,
nunca sequer começamos.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Mulher também deseja
E também sai pra caça
Sem querer que liguem no dia seguinte!
Mulher pode querer estudar
Escolher carreira ao invés de ser dona de casa!
Mas se ela escolher ser do lar
Tá tudo bem também!
Mulher pode não querer tomar um porre
Mas se quiser, pode também
Mulher também escolhe não ser mãe
E escolhe ser madrinha, tia
Ou não também
Mulher é livre
Mulher é libertadora
Mulher é ser e só quem é trasncende essa liberdade
Mulher pode querer se casar
Mas pode não querer também
Mulher pode querer só dar
E pode querer namorar
Mulher pode querer sim!
Pode foder!
Pode gozar!
Pode fazer amor!
Mulher pode o que ela quiser!

sábado, 9 de julho de 2016

(...) Marcou minha pele com tatuagem. Pintou seu nome e sua história, me olhava no espelho e via seu sorriso que invadia minha retina mesmo de olhos fechados. Mas um dia choveu e eu desprotegida, precisei sentir cada gota de água fria em minha pele. Só então percebi que essa chuva foi tirando aos poucos, a tinta vencida que você tentou me pintar.
Eu caminhei na beira da praia enquanto ouvia você cantar pra mim, e eu cantei pra você enquanto você bebia aquele vinho gelado que a gente tinha jurado guardar pra uma ocasião especial. Eu declamei minhas poesias, me despi do meu passado, mas você...
Você continuou a beber, e embriagou-se tanto de si mesmo que acabou esquecendo de mim.
Deixe-me ir!
Desate os nós que destruíram os laços 
Antes que desamarrem os cadarços
E eu caia na tentação de olhar para trás.
Deixe-me ir!
Entregue as cartas que te escrevi ao fogo
Antes que você me convença do quão bobo
É o movimento das lágrimas de solidão.
Deixe-me ir!
Antes que eu acorde novamente em teu peito
E não tenha em minha alma receio
De tropeçar em desilusões.
Deixe-me ir,
Ou convença-me a ficar em teus átrios,
Ouvindo minha canção favorita
Rindo da nossa não-despedida.

O dia em que descobri que te amava

Você me contava sobre seu trabalho
e como se sentia entediado
pensando no dia em que estivesse realizado.
Era primavera, e dizem que o perfume das rosas
só os que estão apaixonados conseguem sentir,
eu, sentia de longe, até o perfume de uma margarida
(se é que margarida tem cheiro)
À noite, eu via a lua tão cheia
e tão linda que me paralisava
quando tentava contar sobre a beleza dela
me diziam:
só os que amam apreciam o luar.
Não sei dizer ao certo a data em que descobri que te amo
mas posso dizer com segurança
comecei a te amar reparando no brilho da lua
achando o teu olhar mais bonito que ela
comecei a te amar sentindo o cheiro das rosas
e tendo a certeza de que teu perfume é o mais gostoso que senti
comecei a te amar quando ficou com dor de garganta
quando me faltou palavras pra descrever meu sentimento
continuo a te amar quando vejo um vídeo de idosos se declarando
e me imagino com você bem velhinho
rindo do passado que estamos construindo.
continuo a te amar ao querer envelhecer ao teu lado
e quando imagino um lar, doce lar, com você.

O amor e seus cuidados

Pronunciar a expressão 'eu te amo' parece um tanto quanto fácil para algumas pessoas. Mas, demonstrar amor, e viver intensamente o que o amor ocasiona, é para poucos. E sorte de quem tem um amor correspondido.
Amar consiste muito mais em expressar o sentimento através de atitudes, do que necessariamente falar. Pois, palavras sem ação são só um amontoado de sílabas sem sentido.
Num relacionamento amoroso, o cuidado com o outro é uma das formas mais bonitas de expressar em silêncio, o amor. Ligar para desejar bom dia, ou mesmo uma mensagem de 'Que seu dia seja maravilhoso' nos remete que, ao acordar, aquela pessoa pensou em você. Com o passar do tempo as coisas tendem a cair na rotina. Não concordo que a rotina seja ruim, desde que, vez ou outra, ela seja quebrada.
Se você ama alguém, é claro que é gostoso quando você diz que o ama. Mas é melhor ainda quando você liga pra ele só pra saber se a dor de ouvido melhorou, ou se ainda está com dor de cabeça por causa de stress. Dizer que ama é bom, mas já escutaram 'estou aqui pra o que você precisar' ?
Faz muito mais sentido quando nos sentimos amadas não só através de palavras, mas quando nos tornamos parte da vida de alguém.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Certidão de Existência

Numa tarde de dezembro, João e Maria estavam aflitos no ponto de ônibus. Horário de pico, sol forte na cabeça, que já estava quente o suficiente com a história a ser resolvida. O tio avô de Maria falecera há pouco tempo, mas o inventário ainda não tinha sido aberto.
Na calçada escaldante do Bom Retiro, João pergunta à Maria:
- Como é, foi ao cartório?
-Fui sim. -Sussurrou a moça cabisbaixa.
-E daí, falou com o José sobre o inventário?
-Ele não estava, mas o Júlio me atendeu.
-E o que ele disse?
Nesse instante, os olhos de Maria denunciavam seu cansaço. O sol forte, o calor, parecia que tudo cooperava para aquela situação de frustração de quem está cansada de ir e vir de repartições públicas para provar o parentesco com o famoso dono de uma das maiores empresas agropecuárias do interior de São Paulo.
Angélica era sobrinha neta por parte de pai, que a abandonou ainda na barriga da mãe. Após o falecimento de D. Luíza, começou a investigar, já que se viu sozinha no mundo, quem seria seu pai ou qualquer parente ainda que distante. Menina pobre que morava na periferia de São Paulo, Maria era filha da empregada com quem o patrão teve um caso escondido, que faleceu meses após a descoberta da gravidez num acidente de carro, sem deixar outro herdeiro.
O cansaço de Maria não era só físico.
-Faltou minha Certidão de Nascimento, João, e eu tenho certeza que já levei pra lá!
-A Certidão? Então você terá que falar com a Rose, a moça com quem você deixou todos os documentos semana passada.
-O pior é que o Júlio me disse que acha que ela perdeu.
-E perdeu onde?
-Lá no cartório mesmo. Não há outra explicação João, quem roubaria uma Certidão de Nascimento?
O ônibus encostou no meio fio. Dava pra ver que o destino havia roubado o brilho nos olhos de Maria, mais do que isso, o destino roubou a infância de uma criança que precisou amadurecer pra cuidar do câncer da mãe desamparada pelo Estado. Roubou a adolescência de uma moça que precisou largar os estudos e trabalhar em casa de família seguindo os passos da mãe pra não passar fome. O ônibus chegou e a sua realidade conduzia sua vida rumo à favela.
Órfã, Maria tentava provar para o sistema que ela existia, mesmo ele fazendo questão de mostrar o contrário.

domingo, 15 de maio de 2016

Atenção, contém amor.

Encontramos rótulos em quase tudo na vida. Nas gôndolas de supermercado quando vemos a porcentagem de carboidratos em determinado alimento, em produtos de limpeza pra saber de algum componente que cause alergia.
O problema é que temos a prepotência de rotular sentimentos. E ao tentar enquadrar sentimentos aos rótulos impostos pela sociedade, diminuímos o que de maior existe em nós: a capacidade de amar.
O amor não é só uma palavra. Amar não é um verbo pra conjugar sozinho.
Por tantos outros motivos, me recuso a minimizar o amor num amontoado de palavras escritos num contrato social.
No amor, um não pertence ao outro por pressão, mas antes, se doam sem precisar que o outro peça. É como se ambos estivessem presos um ao outro através da liberdade que o próprio amor proporciona.
Dizer o que é certo e o que é errado só é válido aos que se amam e se relacionam, portanto, pressionar as pessoas para assinarem papéis para provarem à sociedade que têm um compromisso é o mesmo que comprar uma peça de roupa e deixar a etiqueta à mostra para dizer que ela lhe pertence.
E nem as pessoas, nem o amor são peças de roupa ou objeto pessoal para sequer pensar que possuímos.
Amar, consiste antes de tudo, em prezar pela felicidade e bem estar de quem amamos enquanto construímos um relacionamento sólido o suficiente pra suportar as tempestades que a vida proporciona.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Eu não serei feliz quando começar a faculdade. Nem quando aprender a escrever melhor, ou a trabalhar com o que eu gosto.
Eu não serei feliz quando for morar sozinha, experimentar uma liberdade sonhada, ou quando conhecer Paraty. 
Eu não serei feliz quando publicar meu primeiro livro. Nem quando tiver alguma menção sobre mim em algum veículo de comunicação importante.
Eu não serei feliz quando me casar, nem quando eu for mãe, nem quando eu puder observar meus netos com alguém do lado que eu olhe e sinta amor.
Não. Eu não serei feliz. Eu estarei feliz desde hoje. Com direito a dias tristes que é pra valorizar o sorriso. Eu já estou e sou feliz com o que sou e tenho hoje, porque sem dúvida, o hoje é a única coisa que tenho.
A vida é mais que um diploma, uma casa, ou poesias escritas para o vento. A vida é uma tarde de domingo na beira da praia em plena primavera. É a sombra de uma árvore que dá abrigo no verão. A vida, meu bem, é aquela canção em Dó que você tem prazer de tocar.

A valsa das flores mortas

Cresci no campo aberto 
Recebendo luz solar, e era certo
Que meu perfume permaneceria no ar.
No início, produzi folhas verdes
Alguns espinhos, algumas sementes
E um dia, de repente
Comecei a florescer.
Minhas pétalas queriam voar
Eu queria era dançar
Mas o meu corpo foi arrancado
Meus espinhos mutilados
Para alguém me comprar.
Fui embrulhada com papéis
Perto de mim um cartão
Com palavras sem sentido
Dizendo ser de coração.
Fui para um pequeno jarro
Achava que teria esperança
Que voltaria para a terra
Que até então virou lembrança.
Mas minhas pétalas murcharam
Foi tudo muito rápido
Meu cadáver no lixo jogaram
Pois cheirou mal e apodreceu.
Sou apenas mais uma rosa
Que dançou com excelência
A ganância do homem através
Da valsa das flores mortas.

Mulher?

(...)
Hoje eu acordei cedo pra preparar o café. Claro, antes que todos acordassem e fazendo o mínimo de ruído possível pra que meu esposo pudesse levantar disposto para trabalhar, afinal eu não trabalho fora. 
Coloquei a água no fogo, fervi o leite e aproveitei pra lavar umas louças que estavam na pia do jantar de ontem. Quando tudo ficou pronto, fui até a padaria e comprei pães frescos e quentes.
O despertador tocou. Meu esposo se levantou e não viu seu uniforme em uma mesinha que eu havia acabado de passar. Enquanto tomava banho, peguei as peças e levei até o banheiro pra ele.
Meu filho mais velho, de 6 anos também se levantou para ir ao colégio. Minha filha, com 2 anos de idade, continua comigo. Minha companheira.
Os dois tomaram café. Ao saírem, aproveitei que Alice ainda dormia e lavei um tanque com roupa pra aproveitar o sol. Sabe como é, no verão sempre tem tempestades no fim da tarde e como lavo tudo na mão, nem secariam se eu deixasse pra mais tarde.
Fui pro quarto do meu filho. Organizei seu armário, limpei os móveis, o chão. Passei para o meu, Alice acordou. Ela é um doce, mas gosta de atenção. Brinquei um pouco, mas ela sempre insiste em querer mais. Já era hora do almoço, precisava fazer comida, afinal, eu não trabalho fora.
Desliguei as panelas e meu esposo chegou. Eu havia esquecido, ele não gosta de comida quente. Depois de uma manhã intensa no trabalho, acabou sendo rude comigo e ... bom, apanhei mais uma vez.
Dizem que o primeiro tapa a gente nunca esquece. Eu fingi que esqueci. Era um dia frio, e eu havia lavado um casaco dele e não secou a tempo pra ele trabalhar e eu entendo...ele estava nervoso.
Após ele almoçar, dormiu um pouco no sofá enquanto eu limpava a cozinha e enxugava minhas lágrimas. Eu tinha jurado que nunca mais apanharia. Seria o dia perfeito pra mudar de vida.
Alice puxou a barra do meu vestido. Pedro chegou da escola. Ambos, com sorrisos que aquecem minha alma toda vez que ela fica fria.
Eu deixei de estudar pra ser mãe. Larguei meu emprego quando engravidei. Não tenho casa própria. Meus pais faleceram e meus amigos...simplesmente dizem que gosto de apanhar.
Talvez quando crescerem. Talvez eu tome coragem de escapar. Mas agora?
Tenho roupas para passar, casa para limpar, e verbos para conjugar em segredo nos meus sonhos sobre a minha realidade.

O amor não é uma fotografia tirada por um Iphone. Está mais pra retratos improvisados que demoram um tempo até serem revelados. 
Não é instantâneo, antes, precisa de sorrisos diários, tristezas esporádicas e um tanto bom de tesão pela vida, pois aquele que não consegue ser feliz consigo mesmo, também não conseguirá ser feliz com o outro. 
O amor vive de companheirismo. Respira respeito, inspira compaixão, e nessa troca que fazem um com o outro é capaz de ascender cada vez mais tal chama que invade o peito e quer extravasar de tão grande.
O amor precisa, acima de tudo, de escolhas, e à partir do momento que escolhemos ver o outro bem sem esquecer do nosso próprio bem estar, é que a reciprocidade acontece.
(...) Não tínhamos fotografia alguma ou alguma canção favorita. Não planejamos nada além de sermos livres, e fomos.
Não construímos nada, nem ouvíamos as poesias cantadas pela lua. Sequer acreditamos que um dia ficaríamos juntos.
Não sorrimos quando nos beijamos pela última vez e nem choramos. Não sentimos tristeza ao virar as costas, pois sabíamos, era sempre o melhor a fazer.
Nada acabou, porque nada começou entre nós.
Os laços que demos um ao outro se faziam nós a cada falta de uma digna despedida.
E quanto às lembranças...bom, esse era o jeito de recordar do seu sorriso do mesmo modo que as pessoas fazem hoje com a fotografia. As minhas o tempo rasgou.

Ele é piadista que me faz rir mesmo enquanto choro.
É psicólogo quando preciso desabafar.
Amigo para aconselhar.
Amante para me dar prazer.
Amor que me faz sentir, mesmo quando já não acreditava possível.
Impossibilidade no meio do caos.
Humano o suficiente para errar.
Homem para se redimir.
Humilde em perdoar.
Amor que não penso em perder, até quando Deus me recolher.
Ele é a rosa que vale o sacrifício do espinho.
E a sua voz é capaz de me fazer feliz.
Ele é a companhia nos dias de chuva.
E nos de sol, e também nos dias nublados.
Ele é a doçura do meu mundo amargo.
E o tempero dos meus dias sem sal.
Amor que sempre esperei.

O amor e a satisfação

Hoje li em uma lista qualquer na internet, uma das vantagens de estar solteira : não ter que dar satisfações.
Confesso que dentre dez itens, esse me chamou mais a atenção pelo fato da maioria das pessoas acharem ruim conversarem sobre sua rotina com a outra.
Um relacionamento bem sucedido é feito de diálogo. Conversar com o outro te dá a oportunidade de conhecer pensamentos, ideias, sonhos e dar a mesma oportunidade para que o outro também te conheça.
Mas o mais engraçado, é que essas pessoas que não gostam de "dar satisfações" à alguém esquecem, é que , em um relacionamento as coisas precisam ser naturais e prazerosas. Existe uma enorme diferença entre contar sobre sua vida e pedir permissão para fazer algo como se o outro fosse seu tutor. Falar sobre a sua rotina tem sim, importância, desde que não seja à força ou algo tido como obrigação.
Quando compartilhamos com o outro o nosso dia a dia, estamos abrindo brecha para que ele participe da nossa vida, pois o amor se constrói diariamente, e aos poucos. Quando percebemos que "satisfações" nada mais é a nossa rotina e quando enfim, temos prazer de contar ao outro, estamos também permitindo que além de um relacionamento amoroso, haja uma amizade saudável, indispensável no amor. Contar algo engraçado que tenha ocorrido na fila do mercado pode ser o nível de intimidade que só quem realmente está disposto a amar tem. Compartilhar músicas ouvidas, filmes vistos separados, notícias ou futebol, é natural e saudável, pois melhor que ter alguém pra contar como foi seu dia, é ter um dia pra contar pra alguém.

Deixe sua tristeza passar; não a atropele com falsos sorrisos, nem dedique menos ou mais tempo a ela que o necessário. Se é luto por perder alguém, sofra, chore, se dê esse direito de entristecer, mas saiba que por mais incrível que pareça, você está vivo e precisa viver.
Deixe o seu amor não correspondido para trás. Ame, escreva poemas em cartas, viaje até ele se assim for preciso. Demonstre seu sentimento até a última gota, mas quando essa se for, tome um banho, um café, um porre, e acredite, ninguém morre de amor. Vista sua melhor roupa e saia consigo mesma em busca do seu amor próprio.
Deixe suas frustrações no passado. Não é porque você sofreu uma vez ou duas ( ou seja lá quantas vezes ) que todas as pessoas são iguais. Dedique seu tempo livre à você. Ande de bicicleta, dance, escreva, ouça músicas, leia, mas esteja acompanhada de si mesma, e saiba, você deve ser sua melhor companhia.
Deixe seu coração livre. Caso encontre alguém que esteja disposto a se relacionar verdadeiramente, se dê essa chance. Tenha uma vida! Não fique esperando o príncipe encantado chegar e te salvar da sua torre de solidão. Construa você mesma a escada que leva até sua felicidade, sem o corrimão do vitimismo pra você se apoiar e dizer que tem dificuldades de andar sozinha. Saiba que é bom andar de mãos dadas, mas entrelaçar a vida com alguém que vale a pena amar é muito mais do que enlaçar dedos por carência.

Se o amor te convida...

Quando o amor me convidou para sentir, mal sabia que amar significaria mudar. Mas não mudar o outro, e sim a mim mesma.
Amar é resistência. É entrar em contradição com suas próprias vontades e decidir no plural quando a vida que eu estava acostumada era singular. Amar é quando eu me torno nós ao decidir sobre uma possível viagem, não por dependência, mas por gostar da companhia de quem amo. 
Quando pensamos em amor romântico temos a tendência de achar que será tudo perfeito, como num conto de fadas, mas a realidade é bem diferente do que nos apresentaram na infância. Amor não é estabilidade. Se fosse, cairia na estagnação, na má rotina de fazer sempre as mesmas coisas porque no fundo, não precisa mesmo surpreender porque temos a garantia, e amor não é eletrodoméstico para ter prazo de validade, ainda que vitalício.
Quem ama, sabe que a vida é movimento, mesmo quando estamos em repouso em relação à alguma coisa. Sabemos que o desejo, por exemplo, pode ser mais interessante se vez ou outra, houver uma surpresa ou algo diferente. Uma lingerie, um perfume, um local...Quando o casal deixa de se preocupar em fazer coisas diferentes, é porque tem essa falsa impressão de que o outro não precisa mais ser surpreendido, porque já houve a conquista. E é aí que mora o perigo. O amor é feito uma rosa delicada. Plantamos em solo fértil, adubamos, regamos, mas se em seu auge de plenitude não houver mais cuidado, adubo e água, ele simplesmente morre, aos poucos. Por isso não só o desejo deve ser cuidado dia após dia. Mas simples detalhes, quase imperceptíveis, devem ser levados em consideração para que o amor sobreviva em nós.
Se amar, como disse no início, significa também mudar, e mudar a mim mesma, parte de mim querer fazer dar certo e consequentemente do outro também.
Se você pode cozinhar pra sua esposa/namorada/ficante algo que ela esteja com vontade de comer e sabe que vai deixá -la feliz, experimente fazer também uma sobremesa diferente não só para impressionar ou se auto afirmar, mas por quebrar a rotina de uma terça feira sem graça.
Se você toca ou canta. experimente ouvir com atenção aquela música que ele/ ela vive cantarolando achando que você nem percebe, e toque ou cante olhando nos olhos. Ainda que desafinado, fora do ritmo, a percepção dela/dele será na sua intenção que você teve de se doar, de prestar atenção num detalhe sutil e surpreender com bom humor.
No amor, o detalhe é que faz a diferença. Há quem goste de um texto clichê acompanhado de uma foto editada no PhotoScape com direito a um -se sentindo apaixonada; eu sou mais presença , amizade, companheirismo, cumplicidade, fotos de domingo que não são postadas mas guardadas no nosso mundo secreto onde só nós sabemos a senha, e não...não é Instagram ou Facebook, é amor vivido numa realidade plena, longe das curtidas virtuais, perto do apoio perceptível no olhar.

Já era madrugada quando resolvi desligar a TV. As imagens me serviam de luz e o som um inútil disfarce para a solidão. O quarto ficou escuro, sem vida. Eu respirava, mas a sensação de perda era bem maior que a minha vontade de inspirar. 
Senti um vento forte entrar por uma fresta na janela, fui até a beirada da cama para tentar, sem sucesso, fechar o vidro, a alma e meus olhos para o mundo. Levantei por obrigação e chegando até a janela percebi que lá embaixo, na rua, havia um casal se despedindo. Observei os abraços e beijos que demorados que trocavam. Pude até sentir, por um instante, os suspiros de amor que estavam no ar.
Lembrei dos teus olhos, no pôr-do-sol, marejados de tristeza. Recordei também que na nossa despedida não houve beijos ou abraços, ou sequer alguma demonstração de afeto, não era um 'até amanhã', foi um 'adeus'.

Ciúmes

Sentir ciúmes de alguém é irracional. Não no sentido de cuidado, mas no sentido de posse. Quando deixamos o ciúmes falar mais alto, dizemos ao nosso ego que o outro nos pertence. E é aí que mora o perigo.
Ninguém deveria conjugar o verbo "pertencer" num relacionamento. Podemos dizer que uma roupa nos pertence. Um quarto, um anel.
Mas não uma pessoa.
Erramos porque construímos uma redoma em torno de quem amamos. O ser amado, passa a não ter mais vida própria, vontades, desejos, sonhos. Ledo engano! Somos seres coletivos e como tais precisamos nos conectar uns aos outros para conviver.
Quem sente ciúmes sofre por ter que reconstruir essa redoma de ilusão toda vez que o outro o decepciona, porque querendo ou não, todos somos suscetíveis ao erro.
Quando entendemos, por fim, que tanto um quanto o outro precisa e merece ser tratado como gente e não como objeto, vemos que o amor só é bom quando sentimos a liberdade de mãos dadas conosco.