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quarta-feira, 23 de março de 2016

Eu não serei feliz quando começar a faculdade. Nem quando aprender a escrever melhor, ou a trabalhar com o que eu gosto.
Eu não serei feliz quando for morar sozinha, experimentar uma liberdade sonhada, ou quando conhecer Paraty. 
Eu não serei feliz quando publicar meu primeiro livro. Nem quando tiver alguma menção sobre mim em algum veículo de comunicação importante.
Eu não serei feliz quando me casar, nem quando eu for mãe, nem quando eu puder observar meus netos com alguém do lado que eu olhe e sinta amor.
Não. Eu não serei feliz. Eu estarei feliz desde hoje. Com direito a dias tristes que é pra valorizar o sorriso. Eu já estou e sou feliz com o que sou e tenho hoje, porque sem dúvida, o hoje é a única coisa que tenho.
A vida é mais que um diploma, uma casa, ou poesias escritas para o vento. A vida é uma tarde de domingo na beira da praia em plena primavera. É a sombra de uma árvore que dá abrigo no verão. A vida, meu bem, é aquela canção em Dó que você tem prazer de tocar.

A valsa das flores mortas

Cresci no campo aberto 
Recebendo luz solar, e era certo
Que meu perfume permaneceria no ar.
No início, produzi folhas verdes
Alguns espinhos, algumas sementes
E um dia, de repente
Comecei a florescer.
Minhas pétalas queriam voar
Eu queria era dançar
Mas o meu corpo foi arrancado
Meus espinhos mutilados
Para alguém me comprar.
Fui embrulhada com papéis
Perto de mim um cartão
Com palavras sem sentido
Dizendo ser de coração.
Fui para um pequeno jarro
Achava que teria esperança
Que voltaria para a terra
Que até então virou lembrança.
Mas minhas pétalas murcharam
Foi tudo muito rápido
Meu cadáver no lixo jogaram
Pois cheirou mal e apodreceu.
Sou apenas mais uma rosa
Que dançou com excelência
A ganância do homem através
Da valsa das flores mortas.

Mulher?

(...)
Hoje eu acordei cedo pra preparar o café. Claro, antes que todos acordassem e fazendo o mínimo de ruído possível pra que meu esposo pudesse levantar disposto para trabalhar, afinal eu não trabalho fora. 
Coloquei a água no fogo, fervi o leite e aproveitei pra lavar umas louças que estavam na pia do jantar de ontem. Quando tudo ficou pronto, fui até a padaria e comprei pães frescos e quentes.
O despertador tocou. Meu esposo se levantou e não viu seu uniforme em uma mesinha que eu havia acabado de passar. Enquanto tomava banho, peguei as peças e levei até o banheiro pra ele.
Meu filho mais velho, de 6 anos também se levantou para ir ao colégio. Minha filha, com 2 anos de idade, continua comigo. Minha companheira.
Os dois tomaram café. Ao saírem, aproveitei que Alice ainda dormia e lavei um tanque com roupa pra aproveitar o sol. Sabe como é, no verão sempre tem tempestades no fim da tarde e como lavo tudo na mão, nem secariam se eu deixasse pra mais tarde.
Fui pro quarto do meu filho. Organizei seu armário, limpei os móveis, o chão. Passei para o meu, Alice acordou. Ela é um doce, mas gosta de atenção. Brinquei um pouco, mas ela sempre insiste em querer mais. Já era hora do almoço, precisava fazer comida, afinal, eu não trabalho fora.
Desliguei as panelas e meu esposo chegou. Eu havia esquecido, ele não gosta de comida quente. Depois de uma manhã intensa no trabalho, acabou sendo rude comigo e ... bom, apanhei mais uma vez.
Dizem que o primeiro tapa a gente nunca esquece. Eu fingi que esqueci. Era um dia frio, e eu havia lavado um casaco dele e não secou a tempo pra ele trabalhar e eu entendo...ele estava nervoso.
Após ele almoçar, dormiu um pouco no sofá enquanto eu limpava a cozinha e enxugava minhas lágrimas. Eu tinha jurado que nunca mais apanharia. Seria o dia perfeito pra mudar de vida.
Alice puxou a barra do meu vestido. Pedro chegou da escola. Ambos, com sorrisos que aquecem minha alma toda vez que ela fica fria.
Eu deixei de estudar pra ser mãe. Larguei meu emprego quando engravidei. Não tenho casa própria. Meus pais faleceram e meus amigos...simplesmente dizem que gosto de apanhar.
Talvez quando crescerem. Talvez eu tome coragem de escapar. Mas agora?
Tenho roupas para passar, casa para limpar, e verbos para conjugar em segredo nos meus sonhos sobre a minha realidade.

O amor não é uma fotografia tirada por um Iphone. Está mais pra retratos improvisados que demoram um tempo até serem revelados. 
Não é instantâneo, antes, precisa de sorrisos diários, tristezas esporádicas e um tanto bom de tesão pela vida, pois aquele que não consegue ser feliz consigo mesmo, também não conseguirá ser feliz com o outro. 
O amor vive de companheirismo. Respira respeito, inspira compaixão, e nessa troca que fazem um com o outro é capaz de ascender cada vez mais tal chama que invade o peito e quer extravasar de tão grande.
O amor precisa, acima de tudo, de escolhas, e à partir do momento que escolhemos ver o outro bem sem esquecer do nosso próprio bem estar, é que a reciprocidade acontece.
(...) Não tínhamos fotografia alguma ou alguma canção favorita. Não planejamos nada além de sermos livres, e fomos.
Não construímos nada, nem ouvíamos as poesias cantadas pela lua. Sequer acreditamos que um dia ficaríamos juntos.
Não sorrimos quando nos beijamos pela última vez e nem choramos. Não sentimos tristeza ao virar as costas, pois sabíamos, era sempre o melhor a fazer.
Nada acabou, porque nada começou entre nós.
Os laços que demos um ao outro se faziam nós a cada falta de uma digna despedida.
E quanto às lembranças...bom, esse era o jeito de recordar do seu sorriso do mesmo modo que as pessoas fazem hoje com a fotografia. As minhas o tempo rasgou.

Ele é piadista que me faz rir mesmo enquanto choro.
É psicólogo quando preciso desabafar.
Amigo para aconselhar.
Amante para me dar prazer.
Amor que me faz sentir, mesmo quando já não acreditava possível.
Impossibilidade no meio do caos.
Humano o suficiente para errar.
Homem para se redimir.
Humilde em perdoar.
Amor que não penso em perder, até quando Deus me recolher.
Ele é a rosa que vale o sacrifício do espinho.
E a sua voz é capaz de me fazer feliz.
Ele é a companhia nos dias de chuva.
E nos de sol, e também nos dias nublados.
Ele é a doçura do meu mundo amargo.
E o tempero dos meus dias sem sal.
Amor que sempre esperei.

O amor e a satisfação

Hoje li em uma lista qualquer na internet, uma das vantagens de estar solteira : não ter que dar satisfações.
Confesso que dentre dez itens, esse me chamou mais a atenção pelo fato da maioria das pessoas acharem ruim conversarem sobre sua rotina com a outra.
Um relacionamento bem sucedido é feito de diálogo. Conversar com o outro te dá a oportunidade de conhecer pensamentos, ideias, sonhos e dar a mesma oportunidade para que o outro também te conheça.
Mas o mais engraçado, é que essas pessoas que não gostam de "dar satisfações" à alguém esquecem, é que , em um relacionamento as coisas precisam ser naturais e prazerosas. Existe uma enorme diferença entre contar sobre sua vida e pedir permissão para fazer algo como se o outro fosse seu tutor. Falar sobre a sua rotina tem sim, importância, desde que não seja à força ou algo tido como obrigação.
Quando compartilhamos com o outro o nosso dia a dia, estamos abrindo brecha para que ele participe da nossa vida, pois o amor se constrói diariamente, e aos poucos. Quando percebemos que "satisfações" nada mais é a nossa rotina e quando enfim, temos prazer de contar ao outro, estamos também permitindo que além de um relacionamento amoroso, haja uma amizade saudável, indispensável no amor. Contar algo engraçado que tenha ocorrido na fila do mercado pode ser o nível de intimidade que só quem realmente está disposto a amar tem. Compartilhar músicas ouvidas, filmes vistos separados, notícias ou futebol, é natural e saudável, pois melhor que ter alguém pra contar como foi seu dia, é ter um dia pra contar pra alguém.

Deixe sua tristeza passar; não a atropele com falsos sorrisos, nem dedique menos ou mais tempo a ela que o necessário. Se é luto por perder alguém, sofra, chore, se dê esse direito de entristecer, mas saiba que por mais incrível que pareça, você está vivo e precisa viver.
Deixe o seu amor não correspondido para trás. Ame, escreva poemas em cartas, viaje até ele se assim for preciso. Demonstre seu sentimento até a última gota, mas quando essa se for, tome um banho, um café, um porre, e acredite, ninguém morre de amor. Vista sua melhor roupa e saia consigo mesma em busca do seu amor próprio.
Deixe suas frustrações no passado. Não é porque você sofreu uma vez ou duas ( ou seja lá quantas vezes ) que todas as pessoas são iguais. Dedique seu tempo livre à você. Ande de bicicleta, dance, escreva, ouça músicas, leia, mas esteja acompanhada de si mesma, e saiba, você deve ser sua melhor companhia.
Deixe seu coração livre. Caso encontre alguém que esteja disposto a se relacionar verdadeiramente, se dê essa chance. Tenha uma vida! Não fique esperando o príncipe encantado chegar e te salvar da sua torre de solidão. Construa você mesma a escada que leva até sua felicidade, sem o corrimão do vitimismo pra você se apoiar e dizer que tem dificuldades de andar sozinha. Saiba que é bom andar de mãos dadas, mas entrelaçar a vida com alguém que vale a pena amar é muito mais do que enlaçar dedos por carência.

Se o amor te convida...

Quando o amor me convidou para sentir, mal sabia que amar significaria mudar. Mas não mudar o outro, e sim a mim mesma.
Amar é resistência. É entrar em contradição com suas próprias vontades e decidir no plural quando a vida que eu estava acostumada era singular. Amar é quando eu me torno nós ao decidir sobre uma possível viagem, não por dependência, mas por gostar da companhia de quem amo. 
Quando pensamos em amor romântico temos a tendência de achar que será tudo perfeito, como num conto de fadas, mas a realidade é bem diferente do que nos apresentaram na infância. Amor não é estabilidade. Se fosse, cairia na estagnação, na má rotina de fazer sempre as mesmas coisas porque no fundo, não precisa mesmo surpreender porque temos a garantia, e amor não é eletrodoméstico para ter prazo de validade, ainda que vitalício.
Quem ama, sabe que a vida é movimento, mesmo quando estamos em repouso em relação à alguma coisa. Sabemos que o desejo, por exemplo, pode ser mais interessante se vez ou outra, houver uma surpresa ou algo diferente. Uma lingerie, um perfume, um local...Quando o casal deixa de se preocupar em fazer coisas diferentes, é porque tem essa falsa impressão de que o outro não precisa mais ser surpreendido, porque já houve a conquista. E é aí que mora o perigo. O amor é feito uma rosa delicada. Plantamos em solo fértil, adubamos, regamos, mas se em seu auge de plenitude não houver mais cuidado, adubo e água, ele simplesmente morre, aos poucos. Por isso não só o desejo deve ser cuidado dia após dia. Mas simples detalhes, quase imperceptíveis, devem ser levados em consideração para que o amor sobreviva em nós.
Se amar, como disse no início, significa também mudar, e mudar a mim mesma, parte de mim querer fazer dar certo e consequentemente do outro também.
Se você pode cozinhar pra sua esposa/namorada/ficante algo que ela esteja com vontade de comer e sabe que vai deixá -la feliz, experimente fazer também uma sobremesa diferente não só para impressionar ou se auto afirmar, mas por quebrar a rotina de uma terça feira sem graça.
Se você toca ou canta. experimente ouvir com atenção aquela música que ele/ ela vive cantarolando achando que você nem percebe, e toque ou cante olhando nos olhos. Ainda que desafinado, fora do ritmo, a percepção dela/dele será na sua intenção que você teve de se doar, de prestar atenção num detalhe sutil e surpreender com bom humor.
No amor, o detalhe é que faz a diferença. Há quem goste de um texto clichê acompanhado de uma foto editada no PhotoScape com direito a um -se sentindo apaixonada; eu sou mais presença , amizade, companheirismo, cumplicidade, fotos de domingo que não são postadas mas guardadas no nosso mundo secreto onde só nós sabemos a senha, e não...não é Instagram ou Facebook, é amor vivido numa realidade plena, longe das curtidas virtuais, perto do apoio perceptível no olhar.

Já era madrugada quando resolvi desligar a TV. As imagens me serviam de luz e o som um inútil disfarce para a solidão. O quarto ficou escuro, sem vida. Eu respirava, mas a sensação de perda era bem maior que a minha vontade de inspirar. 
Senti um vento forte entrar por uma fresta na janela, fui até a beirada da cama para tentar, sem sucesso, fechar o vidro, a alma e meus olhos para o mundo. Levantei por obrigação e chegando até a janela percebi que lá embaixo, na rua, havia um casal se despedindo. Observei os abraços e beijos que demorados que trocavam. Pude até sentir, por um instante, os suspiros de amor que estavam no ar.
Lembrei dos teus olhos, no pôr-do-sol, marejados de tristeza. Recordei também que na nossa despedida não houve beijos ou abraços, ou sequer alguma demonstração de afeto, não era um 'até amanhã', foi um 'adeus'.

Ciúmes

Sentir ciúmes de alguém é irracional. Não no sentido de cuidado, mas no sentido de posse. Quando deixamos o ciúmes falar mais alto, dizemos ao nosso ego que o outro nos pertence. E é aí que mora o perigo.
Ninguém deveria conjugar o verbo "pertencer" num relacionamento. Podemos dizer que uma roupa nos pertence. Um quarto, um anel.
Mas não uma pessoa.
Erramos porque construímos uma redoma em torno de quem amamos. O ser amado, passa a não ter mais vida própria, vontades, desejos, sonhos. Ledo engano! Somos seres coletivos e como tais precisamos nos conectar uns aos outros para conviver.
Quem sente ciúmes sofre por ter que reconstruir essa redoma de ilusão toda vez que o outro o decepciona, porque querendo ou não, todos somos suscetíveis ao erro.
Quando entendemos, por fim, que tanto um quanto o outro precisa e merece ser tratado como gente e não como objeto, vemos que o amor só é bom quando sentimos a liberdade de mãos dadas conosco.