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domingo, 20 de setembro de 2015

Sobre cumplicidade;


Três da tarde de uma terça feira de sol na minha cidade. Aliás, uma tarde bem quente para o mês de setembro. Enquanto espero meu irmão dentro do carro olho impacientemente para o lado de fora do carro e uma cena me prende a atenção.
A principio um senhor de meia idade está abrindo uma pequena vala na calçada de sua casa para um possível reparo. Cansado pelo tempo demonstrado na postura e nas linhas de expressão, escorou numa enxada que usava pra trabalhar. Minutos depois a esposa aparece, na verdade, reaparece, visto que suas vestes já davam alguns sinais de que ela também estava ali trabalhando. Ela, aparentemente um pouco mais velha pega outra enxada e começa aos poucos a juntar o entulho que o esposo retirava do chão.
Naquele momento uma onda de realidade tomou minha mente e pude perceber nessa cena o que é cumplicidade numa relação.
Quando nos relacionamos com alguém uma das coisas mais difíceis é ser cúmplice do outro. Isso porque pensamentos diferentes, cultura, experiências e conhecimentos de ambos são importantes para a relação, embora possam tornar uma relação apimentada, pode também ser fatal devido a essa rotina de desentendimentos. Cumplicidade nesse caso torna-se essencial para poder dar certo. Aquele casal me chamou atenção por vários motivos, mas o que mais me prendeu o olhar foi o fato de estar muito calor, sol forte, e apesar disso, eles precisavam concertar algo e estavam ali, fazendo o que tinha que ser feito. Atitudes são mais importantes que palavras. Juntaram um ao outro num objetivo em comum. Ajudaram-se.
Quantas vezes os casais são prisioneiros do seu próprio egoísmo e orgulho e se perdem por preferirem jogar o relacionamento fora a concertá-lo. Tem medo de que os outros podem pensar a respeito de um perdão dado, mas convivem na amargura do ressentimento. Toda discussão mal resolvida se assemelha com aquela gripe mal curada que acaba virando pneumonia severa. O corpo adoece. O amor falece.
Cumplicidade consiste em olhar pro seu companheiro nos dias difíceis e dizer através do olhar que vai ficar tudo bem. É prestar solidariedade para com o outro. É arriscar a pele apresentando evidencias de alguma situação que não dará certo, e se ainda assim ele errar, olhar com compaixão ao invés de jogar na cara todos os defeitos dele. E acredite, não existe ninguém perfeito. E se você encontrou alguém assim, perfeito, foge, corre, porque ele não é um ser humano.
O casal que é cúmplice um do outro não é juiz ou promotor de suas ações, mas advogam entre si, defendendo um ao outro com suas qualidades e apesar dos seus defeitos, continuam ali.
Portanto, não tenha medo do sol ou da chuva. Se há algo para fazer, faça. Escolha ajudar o outro com o entulho produzido por vocês. Escolha, acima de tudo, ser cúmplice do outro tanto em tardes quentes de setembro quanto em madrugadas frias de julho. Então verá que só após uma longa jornada de trabalho árduo, provará de uma paz merecida chamada amor.

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